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ESG: MOTIVAÇÕES, CONCEITOS E PACTOS

Um resumo de como chegamos até aqui e porque estamos falando tanto de ESG.

Antes de falar sobre essa sigla e das pressões crescentes na adoção de boas práticas ambientais (E=Environmental), sociais (S=Social) e de governança (G=Governance) pelas organizações, precisamos voltar um pouco na história e no modo de produção estabelecido a partir de 1760, com o início da 1ª. Revolução Industrial na Inglaterra, quando o homem passou a conseguir produzir em larga escala e com custos reduzidos. Foi um grande salto em termos de volume, atendimento às necessidades da população mundial em crescimento, tecnologia e padronização. Por outro lado, durante todo este período, a exploração dos recursos naturais, incluindo-se aí os humanos, vem ocorrendo à exaustão, “como se não houvesse amanhã”, com foco no baixo custo e lucratividade. São claros os efeitos colaterais deste excesso.

Primeiro vieram as preocupações mais diretas com a condição e exploração humana e, no contexto de sofrimento pós 2ª. Guerra Mundial, no início de 1946, foi elaborada a Declaração Universal dos direitos Humanos, posteriormente assinada pelos países integrantes da Organização das Nações Unidas – ONU. Mas foi só no final da década de 1970, com as crises do petróleo, que a humanidade começou a tomar consciência de forma mais definitiva, que os recursos naturais são finitos. Em 1987, no Relatório Brundtland da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, foi publicado o primeiro conceito de Desenvolvimento Sustentável como o “(… ) desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades”. Um conceito centrado no uso dos recursos naturais.

Resumindo: já são cerca de 260 anos de excessos e aproximadamente 50 de tomada de consciência de que algo precisa mudar. Fazendo um paralelo com um ser humano cuja expectativa de vida fosse de 100 anos, é como se aos 80, ele descobrisse uma doença grave e a necessidade de fazer uma dieta bastante restritiva, após quase uma vida inteira de maus hábitos e extravagâncias. É difícil mudar os hábitos com essa idade certo? Pois é, por isso talvez o que mais conseguimos nestes últimos anos foram pactos, promessas, compromissos, metas, mas pouco se realizou na prática. A crise climática, os eventos extremos, a desigualdade, a falta de saneamento, o trabalho escravo ou em condições análogas, tudo isso faz parte do nosso dia a dia, com muitos efeitos e resultados já considerados irreversíveis.

A ideia de gerir não só os resultados econômicos, mas também os impactos ambientais e sociais, como condição de sustentabilidade e sucesso dos negócios já vem de alguns anos. O conceito do “Triple Bottom Line: People, Planet, Profit” foi primeiramente utilizado em 1994, por John Elkington, consultor britânico e “guru” em sustentabilidade. Hoje este conceito vem sendo cada vez mais revisitado, inclusive pelo próprio autor, no sentido de que é necessário sair do discurso, parar com apropriação dos conceitos de sustentabilidade para autopromoção e greenwashing. Segundo ele, serão necessárias mudanças profundas e rápidas 1,2.

Em 2004, a sigla ESG foi utilizada pela primeira vez em uma publicação do Pacto Global em parceria com o Banco Mundial, chamada Who Cares Wins, como uma provocação aos CEOs de grandes instituições financeiras para integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais 3. Hoje sabemos que esta integração não exclui resultados financeiros, muito pelo contrário, potencializa valor e competitividade. Por isso a pressão de investidores veio se somar a este “coro” por mudanças, porém, com o componente fundamental: o poder econômico.

Voltando ao exemplo do nosso o paciente que precisa mudar radicalmente sua dieta aos 80 anos: uma pessoa nesta situação geralmente precisa receber um quase atestado de óbito para poder implementar mudanças de fato. A proximidade do fim precisa ser internalizada para que velhos hábitos mudem. Neste sentido, a pandemia de COVID-19 iniciada em 2020, somada à pressão de investidores, talvez tenha trazido esta mensagem de forma mais contundente:

  • É um lembrete sobre a fragilidade do ser humano frente à natureza e seus eventos extremos.
  • Há uma maior consciência a respeito do impacto das organizações sobre o ambiente e sociedade, as desigualdades sociais, as crises estruturais.
  • A retração econômica, imposta pela pandemia, leva à necessidade de reduzir custos, perdas e a inovar.
  • Houve a eclosão de movimentos sociais por igualdade, inclusão e justiça.
  • Em um mundo pós-covid, espera-se cada vez mais que as empresas divulguem dados e sejam transparentes em relação aos temas ESG.
  • Fundos com características ESG tiveram desempenho melhor que seus pares, já no primeiro semestre de 2020, indicando que esse tipo de investimento teria maior resistência a crises.

É importante também ressaltar, que os temas e práticas ESG estão intimamente relacionados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) estabelecidos pela ONU em 2015, como os novos compromissos mundiais para 2030. Estes 17 objetivos reúnem os grandes desafios e vulnerabilidades da sociedade como um todo, a serem acompanhados de perto e, ao mesmo tempo, sinalizam as grandes oportunidades de desenvolvimento: o que precisa mudar.3

Hoje, 83% das empresas que integram o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3 possuem processos de integração dos ODSs às suas estratégias, metas e resultados. Esta é uma agenda necessária e em construção, onde as empresas de capital aberto, que sofrem maiores pressões de stakeholders, servem de referência para as demais empresas, na incorporação dos conceitos ESG em seus negócios. O grande desafio é que estes conceitos e métricas sejam acessíveis a todas as empresas, incluindo pequenas e médias, permitindo ações de impacto concretas, a mitigação de riscos e o compartilhamento de valor com a sociedade de forma abrangente, independente do setor de atuação.

Compromissos Mundiais 2015 – 17 OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA ONU – AGENDA 2030:

Apesar da agenda estabelecida para 2030, sempre há dúvidas sobre a efetividade das medidas adotadas pelos países e corporações e o real atingimento dos objetivos nos próximos anos. Tomando como exemplo as conclusões do relatório do IPCC de 2022, de que as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) precisam parar de crescer até 2025 e depois cair 43% até 2030 (em relação aos níveis de 2019), para limitar o aquecimento a 1,5°C, tudo indica que as metas e compromissos estabelecidos atualmente não serão suficientes. Mais uma sentença por mudanças mais drásticas, urgentes e em sinergia com os ODS 5.

Quer integrar os conceitos ESG na sua estratégia de negócio e ser um agente nesta mudança? Entre em contato conosco.